A reunião que contaminou alguns comerciantes
A reunião entre representações do comércio e do governo municipal, ocorrida esta semana em Ilhéus, foi muito além do que o liberado para a mídia. Mesmo com o uso de máscaras protetoras, os comerciantes saíram contaminados com o discurso do governo de que aqui, diferentemente de Itabuna, o dever de casa está sendo feito para combater a pandemia. Ora, qual o resultado disso quando o público escolhido para assimilar tal discurso junta a fome com a vontade de comer?
Se aqui está “melhor”, por que acompanhar os mesmos aconselhamentos de Itabuna? Por que não reabrir o comércio, por exemplo, enquanto o de lá é mantido fechado?
Internamente, eles acreditam - e já falam até em grupos de WhatsApp - que o prefeito vai, aos poucos (mas em pouquíssimo tempo) afrouxar as medidas de isolamento e autorizar a reabertura.
O problema é que os empresários ouviram as ações elogiosas de gabinete, mas não tocaram uma só linha na condição e realidade das ruas.
Ilhéus pode estar até fazendo o dever de casa melhor que Itabuna. Difícil até de saber. Mas tem quase o dobro de casos positivos do Covid-19. Ultrapassaou dando "tchau" pelo retrovisor, o município de Feira de Santana, a segunda cidade mais populosa da Bahia que, na primeira fase da doença, parecia inatingível por outro qualquer município interiorano.
Entre alguns comerciantes há um sentimento de que, reabrindo o comércio, o dinheiro volta a circular. É tão simples assim para aqueles que só conseguem enxergar o próprio umbigo.
Óbvio que todo mundo quer a cidade pulsante, social e economicamente, mas é preciso alertar que esta ansiosa tentativa de convencimento e de acordo entre governo e comerciantes, acontece justamente na semana em que as próprias autoridades sanitárias de Ilhéus, avisam que haverá o pico da enfermidade e muito provavelmente, registrará a explosão de maior número de casos no município.
Por que não esperar mais um pouco?
Ou você infantilmente acha que Ilhéus tem apenas 60 (número de ontem) positivados? É preciso alertar que os exames – até pela quantidade pequena que é oferecida pelas instâncias superiores – estão sendo usados para casos mais graves e entre profissionais de saúde que estão apresentando sintomas e expostos ao combate à doença.
Quantos estarão em casa, em plena quarentena, se recuperando de uma "gripe com coriza e tosse seca", outros assintomáticos, que não fazem parte deste estatística?
Afinal, quantos assintomáticos os comerciantes receberão em suas lojas com a reabertura delas? Estes para quantos passarão o vírus sem conhecimento do que estará fazendo?
A comparação - infantil, é o termo - entre os governos de Ilhéus e de Itabuna para se saber que será o verdadeiro campeão da Covid-19 no sul da Bahia terá valido à pena?
Estes protagonistas - comerciantes e governo - têm direito de decidir o destino de todos nós pela sobrevivência - econômica e política - deles?
Afinal, nossa vida vale mesmo uns trocados?